No
Brasil, o custo anual da velhice pode ultrapassar o preço de um carro de luxo.
Foi o que o iG constatou quanto às
despesas com um idoso que necessite de atenção 24 horas por dia: os serviços de
cuidadores chegam a sair até R$ 144 mil ao ano. Vale ressaltar, para
comparação, que um carro Audi A3, modelo 2014, é vendido no País por cerca de
R$ 120 mil.
Com a
proximidade da velhice, filhos podem ter que ajudar os pais financeiramente
Em pouco mais de 15 anos, a participação dos idosos
na população brasileira será quase igual à dos jovens. Pelo menos é o que diz o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na pesquisa Tábuas da
Mortalidade, do final de 2013.
Também
divulgado no ano passado, o Censo de 2010 faz previsões além de 2030 e afirma
que em 2060 o Brasil terá quatro vezes mais pessoas acima de 65 anos do que tem
hoje.
Segundo o
órgão, a população com essa faixa etária deve quase quadruplicar, de 14,9
milhões (7,4% do total), em 2013, para 58,4 milhões (26,7%), em 2060. E,
atrelado a todos esses números ainda está o da expectativa de vida: o mesmo
IBGE já constatou que a expectativa de vida do brasileiro aumentou 25,4 anos no
período entre 1960 e 2010, passando de 48 para 73,4 anos no senso de 2010.
Se, com todos esses dados, você começou a se
preocupar em garantir a qualidade da sua velhice, pare e pense: e a dos seus
pais, já está bem encaminhada?
Independentemente
de sua mãe e seu pai se aposentarem por idade (65 anos para homens e 60 para
mulheres) ou por tempo de contribuição (35 anos para homens, 30 para mulheres),
eles podem precisar da sua ajuda na medida em que envelhecerem. A velhice, e as
doenças que com ela podem surgir, é uma verdadeira caixa de surpresas.
No
Brasil, um aposentado que ganha o benefício mínimo, equivalente a um salário
mínimo – R$ 722,90 por mês – não tem condições de arcar com os vários
gastos decorrentes da velhice, como medicamentos, idas ao médico e a
laboratórios particulares para fazer exames. Mesmo um beneficiário do Instituto
Nacional de Seguridade Social (INSS) que ganhe o teto de R$ 4.396 pode ter
dificuldades e precisar recorrer ao Serviço Único de Saúde (SUS).
Em um
levantamento feito pelo iG em
São Paulo, com ajuda do geriatra da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), Clineu Almada, e de empresas especializadas em idosos, só os
medicamentos já assustam. Na Ultrafarma, rede de farmácias, o ticket médio de
gasto com remédios é de R$ 105,63, sendo que 75% dos clientes são idosos. Ou
seja, por ano, um idoso é capaz de gastar mais de R$ 1.200 em medicamentos.
Já os
exames de rotina – de sangue e de imagem, feitos anualmente – em um laboratório
particular sairiam por cerca de R$ 3.871 segundo dados do Delboni Auriemo
Medicina Diagnóstica. Isso sem contar a consulta ao geriatra, que, em São
Paulo, pode variar de R$ 400 a R$ 1 mil por encontro de acordo com Almada.
Se
preferir investir em um plano de saúde, a família também pode enfrentar
dificuldades: o plano individual Medial 115, da Amil, para maiores de 59 anos,
que dá direito a quarto privativo em internação, custa R$ 3.685,55 por pessoa
em contratos individuais, e R$ 2.579 para os familiares.
Almada
ressalta que a população idosa – acima de 60 anos, segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS) – é bastante heterogênea e que, por isso, os custos
da velhice podem variar muito e chegar a valores ainda maiores do que os
básicos remédios e planos de saúde. Uma pessoa mais velha, considerada saudável,
vai gastar menos do que alguém com alguma perda de funcionalidade, e que se
torna dependente de terceiros.
Já uma
casa de repouso, como a Residencial Sênior, na capital paulista, custa de R$ 3
mil a R$ 5 mil por mês – em torno de R$ 36 mil por ano, podendo alcançar
facilmente a casa dos R$ 60 mil. Nestes valores estão inclusos, por exemplo,
refeições e consultas com geriatra e nutricionista, além de várias outras
atividades terapêuticas, mas gastos com medicamentos, por exemplo, são cobrados
à parte por alguns desses locais.
Em São
Paulo, contratar cuidadores que passem 24 horas por dia com um idoso pode
chegar a R$ 12 mil por mês, ou R$ 144 mil por ano, segundo a Right at Home,
considerada uma agência de preços medianos. O turno de 12 horas pode variar de
R$ 187 a R$ 215.
Pais que um dia vão virar filhos
O
educador financeiro do instituto Dsop, Reinaldo Domingos, ressalta a
importância de os filhos começarem a pensar o quanto antes se vão precisar e
como poderão ajudar seus pais quando estes envelhecerem. Segundo o
especialista, menos de 1% dos aposentados pelo INSS são independentes
financeiramente e, quando não contam com o auxílio de familiares – a maioria
sim –, dependem de caridade ou não conseguem deixar de trabalhar.
“As
pessoas pensam na assistência médica dos filhos, delas próprias, mas não
refletem sobre os pais, que podem se transformar em um grande problema
financeiro no futuro”, afirma Domingos. Para os filhos que desejam se preparar
para ajudar seus pais quando estes chegarem à velhice, o educador recomenda que
comecem com uma análise da sua própria situação, como estão suas reservas e
como o orçamento pode render mais. Enfim, fazer um verdadeiro diagnóstico
financeiro.
Estando
na condição de investir em uma aposentadoria sustentável para seus pais, que vá
além dos gastos com saúde e cuidados pessoais, e englobe também o lazer deles,
os filhos devem começar a poupar. Quanto antes, melhor. “Assim como é preciso
destinar uma parte do dinheiro para os filhos para a faculdade, para comprar um
carro ou mesmo para suas aposentadorias, é necessário pensar no pai e na mãe
que podem se tornar filhos um dia se não tiverem condições de se financiar”,
diz Domingos.
O
educador sugere que, desde cedo, os filhos busquem um plano de saúde, mesmo que
sejam mais baratos e só para idosos, para ajudar a diluir alguns custos da
velhice com idas frequentes ao médico e exames, dos simples aos mais complexos.
Quando
chegam à velhice, os pais podem ter dezenas ou nenhuma doença, grave ou não, e
por isso Domingos recomenda que os filhos protejam suas finanças. “Diante da
gravidade da situação, depender exclusivamente do SUS pode ser demorado e um
filho pode até quebrar financeiramente tentando salvar a vida dos pais”,
ressalta.
Vale
lembrar que todos os planos de saúde possuem um período de carência de 24 meses
para doenças pré-existentes, e que deixar para contratar um só quando a doença
surgir pode acabar saindo muito mais caro.
“É preciso projetar esse futuro. Se você começar a
planejar hoje é possível adequar o investimento a sua realidade e não ser
surpreendido pela necessidade de ajudar o pai ou a mãe. Se você não usar,
ótimo, o dinheiro pode se tornar seu, para que sua aposentadoria seja
sustentável no futuro”, explica Domingos.
O educador
financeiro sugere, ainda, que as pessoas tentem separar de 5% a 6% dos seus
ganhos líquidos mensais para arcar com um plano de saúde e outros custos que
possam surgir com a velhice dos pais. “Se deixar para o futuro, o filho é quem
vai pagar a conta. “Todo mundo tem ideia de quanto custa, sentimentalmente,
perder um pai ou uma mãe”, destaca.
O ideal,
segundo o especialista, é que os filhos poupem para os pais com, no mínimo, 10
anos de antecedência. Quanto mais tempo, melhor. No curto prazo, segundo Domingos,
há pouco o que fazer.
Nesses
casos, o melhor é ir atrás de algum bem que possa ser vendido e transformá-lo
em uma poupança, ou mudar os pais de uma casa maior para uma menor, por
exemplo. “Quanto menos tempo se tiver para poupar, maior será o esforço e o
risco”, conclui.
Texto em anexo, retirado do site do IG ontem dia 30-07-2014.
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